Deixem-me
Mergulhado num vazio. Volto à superfície para respirar,
mas que ar seco e quente. Prefiro então, afogar-me nas lágrimas, salgadas e
frias.
A solidão com que elas, as lágrimas, se multiplicam é
muito melhor que a sensação deste vazio seco, ingrato e nostálgico.
O inverno lá é mais frio, mas é mais humano. Pelo menos,
os ventos, a neblina e a geada são meus acompanhantes por lá, enquanto neste
vazio, a morte, a vontade e o passado, fazem questão de encharcar-me, pelas
lágrimas, para que eu congele lentamente e morra de vez.
Por que não hesitei em ficar? Por que fiz tanta questão
de voltar?
Deparar com almas perdidas pelo desgosto, descaso,
desamor. Desistentes de si, pelo fato de estarem aqui, respirando este ar
quente e seco. Eles chamam de calor, mas eu chamo de aceitar uma frustração.
Tirem-me daqui doutores, antes que eu perca mais alguma
coisa e chame isso de aprendizagem. Tirem-me daqui senhores, antes que eu
concorde que este ar me esquenta nas noites frias. Tirem-me daqui, antes que eu
me tiro de vez deste corpo.
Sofrimentos são reais, claro. Talvez o inexistente seja
mesmo, essa vontade de senti-los.
Atropelem-me, sigam seus cursos sem que eu tenha que
remediá-los com aceitação.
Estou cego, surdo e mudo para o que vocês quiserem me
fazer sentir.
Apenas deixem-me comigo mesmo, apenas deixem-me.
Antes sofrer sozinho, do que ter que justificar e convencer
o outro de que realmente dói.
Eu não preciso explicar-me nada, eu não preciso de nada
além de mim.
Eu sei o que sou, e sei com quem eu posso estar e ser.
Eu sei em quem contar, tenho vários amigos imaginários. O
nome de um deles é Deus, e é a Ele que vou ao encontro em breve.
Está tudo premeditado, julguem-me depois como louco. Louco
é aquele que segue seus sonhos.
... apaguei as luzes, acendi as velas e chamei por Ele.
Estou morto, mas vivo em busca de Ti.
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