Algo nos conectou numa
sexta à noite e desde então entramos na mesma sintonia. Você precisava de mim e
eu de você. Eu ouvia suas queixas sobre seu ex- namorado, e você as minhas
sobre o quanto tenho medo de ter o mesmo motivo para reclamar. No final da
conversa, nós e nossos assuntos se cruzavam. - acolhedor.
Você cruzou meu caminho,
você deu o sinal verde. Eu dei o conforto e a estabilidade de uma viagem
segura. Nosso guia era a vontade, nem eu e você sabíamos pra onde ir e
sequer se iríamos sair dali – daquela situação, nível de relação.
Mantemos a sintonia por
um tempo: sentados no banco da praça, nas camas com formatos estranhos dos
motéis, no banheiro da faculdade. Os parques municipais de Belo Horizonte
ganharam dois visitantes assíduos e famintos - pelas naturezas ambientais e
sexuais. Até nossos telefones estavam conectados com nossos respectivos nomes
na tela apontando uma nova mensagem.
Ninguém poderia
alcançar nosso nível de confidência, disposição e satisfação. Nós estávamos
compactuados a manter a sintonia, o ritmo.
Eu não sei se é culpa
do sistema capitalista ou se é da natureza humana: cobrar. Só sei que as
cobranças vieram, a pressão subiu e eu entupi.
Como tudo foi maravilhosamente
vivido e usufruído ao máximo, foi inevitável o desgaste. Nos desgastamos, mas
não nos desgostamos. Para que seu gosto bom ficasse guardado com carinho, eu apenas
quebrei aquela sintonia. Não atendia seus telefonemas, ou respondia suas
mensagens e e-mails. Passava correndo por você alegando pressa – enquanto a
pressa que te alimentava como resposta era por eu trabalhar demais, a pressa
que eu tinha era para nossa música parar de tocar ali.
Quero guardar você em mim, não comigo – você sempre soube disso. Uma sintonia não pode ser quebrada e sim desconectada. Altere seu “dial” para aquela nossa estação antiga; reciprocidade.
Vamos colocar nossa
música para tocar em nossas mentes, num eventual flashback. Vamos ser amigos, vamos manter a conexão.