Poeira e você – mais um vento forte, acaba ou espalha
tudo. Eu teria preguiça de juntar tudo de
novo, e também teria medo que você me contaminasse ainda mais; sou intolerante à
nossa situação.
Não basta sua presença inconstante, você tem que excitar
a minha esperança, indo e vindo. Se não eu, alguém te espanará para bem longe
de mim, pode ter certeza.
Você está diluindo, e cada dia que passa, penso menos em
você.
Sabe quando aquele pensamento está ralo? Quando a gente
força para manter a concentração naquela ideia? Pois é, você chegou a este
nível.
Eu vejo você escorrendo, só que não mais em lágrimas. Eu
vejo você na ponta de um precipício e cabe a eu decidir, se você fica ou cai. Deus
sabe o que eu queria e o quanto eu queria te puxar e agarrar em meus braços
para evitar a queda/ a sua morte em mim. Mas receber um agradecimento casual
não me alimentaria – então sutilmente eu sopro pra você cair e me deixar de vez.
Enquanto você cai, eu vejo passar todo o tempo que perdi
esperando você mudar de ideia, me ligar, me corresponder. Enquanto você cai, o
espaço, admiração e atenção antes ocupados por você, fica vazio. Me sinto oco,
no vácuo.
Não quero resquícios de você em mim. Vou esperar você
cair, o luto da sua morte, e só depois tirar a bússola do bolso. Por mais que
eu sempre voe rumo ao norte, eu preciso saber em que ponto estou, já que por
estar completamente perdido, preciso saber o caminho para nunca mais voltar ou
percorrê-lo.
Eu não insisti em nada, deixei mesmo as coisas
acontecerem e elas te guiaram para a ponta do precipício. Eu tenho medo de
ceder ao acaso e ficar novamente vulnerável à entrada de situações como a nossa. Em falar em “nossa situação”, em qual
estamos? Ah! Vou soprar pra você cair.
Espero que quando você estiver caindo, você não se
arrependa e acabe voltando, como sempre você faz. Só que dessa vez é
definitivo, pois foi tudo naturalmente conduzido, tipo um ciclo – só se você souber
voar, você se safa dessa. A gravidade, em todas suas vertentes e significados
impedem você de voltar; eu espero.
De qualquer forma, sinto você diluindo - café ralo,
refresco de padaria, gelatina como sobremesa, bolacha água e sal sem acompanhamento. Comida sem tempero,
aniversário de criança sem brigadeiro e água de bebedouro. Você está perdendo a graça, você está me
perdendo.
Enquanto você dilui, eu continuo indo.
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