sábado, 11 de fevereiro de 2012

Eu, a vela e a faca.


Eu, a vela e a faca. 

Olhei outro dia pra janela e vi um rosto, uma imagem, não distingui quem era ao certo, mas algo me dizia que era bem familiar. Vesti o casaco, calcei as luvas peguei o guarda-chuva e saí. Aquela monotonia não me fazia muito bem. Atravessando a rua, senti uma brisa passar por entre minha alma, e daí veio aquele arrepio incerto de que algo acontecera naquele momento.
Morri. Foi o que senti. Aquela imagem que havia visto mais cedo era meu retrato, era o que eu costumava ser.  Minha imagem embrulhada e esquecida num canto, mas sempre relembrada e aclamada por todos que com ela conviveram. Dela surgiu uma nova personalidade, melhorada na aparência e desgraçada no seu interior.
Uma nova forma, um vazio imenso. Seu sorriso conquistava a todos, mas só alguns percebiam que ao sorrir, não era brilho que exalava pelo olhar e sim o reflexo das lágrimas, lágrimas que jamais cairiam... elas têm medo.
Essa imagem foi morta. Palavras a mataram junto com doses cavalares de decepções, desilusões, limitâncias... (vida), num momento prematuro demais para que ela suportasse.
Quanto aos outros? Os outros acreditam que ela conseguiu, que ela era forte e que aprendeu com a vida... Pobres coitados que culpam a vida pelas desgraças que eles causaram... Assim é fácil ser também uma vítima... da vida.
Mas acho que a imagem não aprendeu nada com essa turbulência toda, ela apenas rendeu-se e lapidou-se aos encantos dos problemas, participando deles e agindo como se nada a atingisse.
Essa nova forma é um escudo. Que guarda a antiga imagem, mas não espalhe, deixe os outros acreditarem que ela morreu. Se não, irão querer sua cabeça para pregar em postes.
Esse escudo é frio, calculista, precavido e cruel. Não quer saber do bem, do bom, de nada. Quer saber quando será o momento certo para as cascas começarem a ser tiradas e a velha imagem vir. Quem sabe no fim do ano, ou, no início do que vem?
Ao voltar, olhei para a janela e sorri. O reflexo das lágrimas conjunto ao do vidro me cegaram, fazendo-me esquecer do que havia descoberto sobre mim, enquanto saíra. Mas essa fusão mostrou-me um vão, o qual segui. Apontaram-se a vela e a faca. E lá eu lembrei, a vela será acesa para que a fé permaneça viva, assim poderei esperar para descamação e do novo surgir o original, o insubstituível eu mesmo. E a faca, a faca é a outra alternativa meu amigo, se eu não aguentar, eu saberei como usá-la, fique tranquilo.


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