segunda-feira, 30 de abril de 2012

Diálogo: Beija-flor e borboleta. “Você saiu do casulo, mas não do vidro”.


Diálogo: Beija-flor e borboleta. 
“Você saiu do casulo, mas não do vidro”.


Sinto sua falta. O que mais posso dizer? É só isso que sinto, sua falta.
Choro, grito, esperneio, dou gargalhadas, agradeço... Isso tudo é sentir falta, falta de você.
Foi tão rápida a partida, não houve nem agradecimentos ou sequer despedida.
Tudo se foi. Fim.
Talvez haja um recomeço, talvez não.
Talvez eu sane essa vontade de ouvir sua voz, rir de suas palhaçadas, interpretar teus sonhos... talvez passe a vontade de ouvir teus elogios, te impulsionar para frente, te motivar a vencer...
Talvez você não precisa mais de mim. Está forte o suficiente.
Talvez você se encontrou ou apenas perdeu-se de mim...
Tudo muda um dia, tudo evolui ou regride. Sinto que mudamos, tanto eu quanto você.
Sou mais feliz agora, mais seguro... Sou mais eu, literalmente.
E você tem se portado um pouco fora do contexto, você tem sido “mais você”, mas “mais só você", entende?
Existe algo além de nós mesmos, como, o outro.
Existem histórias, contos, casos, fofocas.
Existem mentiras, verdades, lágrimas, sorrisos.
Existimos por um tempo, agora existe eu. Agora existe você.
É triste, é ruim. Foram anos juntos, como tudo simplesmente acaba assim?
Seus segredos morrem comigo. Mas não queria que você morresse, nem com ou pelos meus segredos. Viva, sorria, seja você. Apenas respeite o fim, e não semeie ao vento espalhando aquilo que só você sabe.
Vou ser extremamente sincero aqui, não importa quantas linhas ou páginas isso vai dar... não estou escrevendo para agradar ninguém... nem mesmo a ti... nem mesmo a mim...
Sempre fui mais maduro que você, inegável este fato. A vida sempre me deu amostras grátis de perdas, dores... de como voar contra o vento.
 A vida sempre exigiu um pouco mais de mim... recorde só um pouco da minha primeira experiência concreta com o amor. Um desastre do início ao fim.
Não sou vítima da vida, jamais quis dizer isso...
Veja,  é como se eu fosse um beija-flor, que depois que quebra a casca do ovo, recebe alguns cuidados e tem que aprender a voar, se não morre! Ele não fica no ninho... Ao contrário de você, que de uma larva comilona, se tranca num casulo para depois se transformar em uma bela borboleta. Mas existem pessoas que prendem borboletas em vidros e as cria lá dentro com todo conforto e amor, sem que elas precisem se quer voar para conseguir algo...  E no fundo elas se acomodam e gostam. Com beija-flores é ao contrário, nem em viveiros são presos, pois eles têm a fama de que sempre voltam quando bem queridos.
Você diria então que a vida mima quem? Ninguém! Cada um é cada um. Cada um com seu propósito e suas páginas em branco para escrever a sua história... Uns escrevem a lápis, outros a tinta... Uns apagam, outros “passam por cima”... A vida não mima, só cobra de cada um de um jeito diferente!
Mas mesmo com todos os desafios que vivi, sempre levei a vida como uma escola... de todo limão que ela me dava, eu fazia uma limonada... não bebia, pois não gosto de nada proveniente do limão... eu simplesmente oferecia minha limonada àqueles que eu achava que precisavam ou mereciam! Você é um deles!
Nossa amizade, olhando pelo que aconteceu, não era bem uma amizade... era uma relação de freguesia... Você estendia sua mão enquanto eu te dava lições da vida...
Não é drama ou pedido de pena pelas situações que passei, tem gente que sofre mais... mas a mim, um sensível beija-flor, afetaram muito. Mas se fosse em você... matariam. Borboletas são naturalmente frágeis.
Eu nunca cedi. Eu nunca semeei dor, para extravasar um sentimento confuso. Cicatriz marrom na asa esquerda.
Eu chegava até o limite, até cair. Um, dois, três verdadeiros colapsos.
Perdi coisas nas quedas, você sabe!
Mas levantei-me de todas. E de cada uma aprendi maneiras de como não cair.
Aprendi, aprendi, aprendi! E te ensinei!
Nossa relação de freguesia estava dando cada vez mais certo! Eu te ensinava a como se amar, enquanto você me dava a certeza de que eu não estava sozinho!
Tornamos sócios!
Você foi se conhecendo, se honrando... enquanto eu, como sempre me contemplando, te fazia crer do seu potencial.
Você saiu do casulo, e tornou-se uma bela, magra e loira borboleta!
Um ser lindo, frágil, mas lindo!
Voando sempre no rumo que o vento (opiniões) te guiavam, eu, beija-flor, dava marcha ré na minha “caminhada” rumo ao norte, para buscar-te do martírio. Sul.
Todos duvidavam de nossa relação! “Beija-flor come borboleta”, era o que diziam!
Mas nós dois sabíamos que não, eu jamais faria isso com você. Com você!
Depois de buscar-te inúmeras vezes da força do vento, você aprendeu o caminho e se cansou de nossa sociedade.
Você começou a querer inverter papéis. Você mostrou um lado que me feria muito, você lançou suas toxínas em todos, até mesmo em mim...
Você não ficava feliz pela minha felicidade... impunha condições, empecilhos... Julgava minha alegria até começar a me pôr em teste, para saber como você sairia...
Borboleta querida, você saiu do casulo, mas não do vidro. Você literalmente faz tempestade em copo d’ água.
Não se vanglorie tanto ainda, calma... como que você pôde se mostrar tão ingrata?
Se quiseres devolvo a ti tudo que me deu, já que fazes questão de jogar na minha cara, mas quero saber, se eu resolver cobrar de ti,  como devolverias tudo aquilo  que eu pude te ensinar? Tempo não se compra, vidas muito menos!
A sociedade? Você rompeu. Mudou, me esqueceu.
Está se pondo como um todo. Como tudo. Tudo que te quer o bem, você destrata.
Se você não precisa de ninguém, por que não abre a tampa e se mata? Ou vive?
Mas prefira a morte, do que à solidão. Ter amigos que te emprestam o guarda-chuva num dia ensolarado e pegam assim que começa a chover, dói. Mas se quer assim, voe borboleta, fuja de mim.
Eu mudei, você mudou. Mas no que eu mudei que te prejudicou?
Seguindo a vida, como sempre, voando mais rápido que todos, fui deixando-te para trás... e esqueci de me preocupar, confesso.
Os ventos mudaram, cata-ventos te entreteram, e você pairou sobre eles e por lá ficou.
Este aqui talvez, seja o último conselho que lhe dou; procure por paredes para pousar, elas são concretas, pois cata-ventos acabam cortando-te um dia!
Você sabe que eu posso voltar, beija-flor é a única ave que voa para trás... mas eu não posso parar, jamais...
Se queres sentir-se tanto assim, vá em frente, até um dia chegar onde estou.
Se um dia você resolver entender e quiser que eu realmente volte, sabes que é só chamar meu nome... e eu estarei lá , aprendendo e ensinando com mais um de meus voos.


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