domingo, 6 de janeiro de 2013

Entre meios-termos


Entre meios-termos



Sentado numa esquina qualquer, de um dia qualquer, numa noite qualquer. Não estava frio, nem quente, úmido ou seco, ruim ou bom.
Eu estava lá, apenas esperando um pensamento que preenchesse um vazio simbolicamente infinito.

No meio desses meios-termos, parou um carro. Não era de luxo, nem popular, novo ou velho, bonito ou feio.  De dentro dele, foi feito um convite: “Você quer entrar no carro e passear comigo?”.

O vidro nem estava totalmente aberto, a pessoa nem confiava em mim para olhar nos meus olhos e queria que eu desse um “passeio” com ela. Não fazia sentido.
Eu, que estava de cabeça baixa, levantei e demonstrei uma expressão de: “Por favor, suma.” Mas não funcionou, de convite passou a ser praticamente uma intimação. Até que eu resolvi ser bem claro, e falar que NÃO.
O som do pneu cantando, pela arrancada violenta e sem graça do carro, conseguiu expressar o que eu queria ter gritado a essa pessoa.
Ótimo! Um barulho me satisfez por instantes.

Mudei de esquina, rumo, rua, vontade.
Parei num desses fast-food que ficam abertos 24 horas e pedi algo pra comer. Eu queria satisfação, logo, vou satisfazer meu corpo.
A metade do lanche coube em mim, já a outra, ficou perfeita na boca daquele cachorrinho que passava na porta.

Paguei, deixei o troco com a moça que às três horas da manhã estava acordada trabalhando duro, para conseguir uma vida relativamente mole.
Mas eu ainda estava confuso, não sabia o que fazer para me preencher.
Não era falta de amor, carinho, paz, animação ou comida. Era falta de mim.

Percebi que esse tempo todo eu estava com meus fones de ouvido e que eles me impediam de ouvir.
Tirei os fones, desliguei a música e descobri o som do silêncio.
Não existe silêncio absoluto se você é um ser pensante. Mesmo não tendo nada pra pensar, você pensa que não tem nada pra pensar.

Resolvi então, desembaralhar minha mente e escolher algo pra questionar, descobrir. Satisfazer.
Comecei a pensar em mim, no que eu estava sentindo falta. Eu sentia falta de dizer “não” quando eu não quisesse algo, ou “sim” quando eu estivesse realmente afim.
Sentia falta de ignorar o que não me preenche sem medo de ser deselegante, sentia falta de ser claro mesmo no escuro de uma transa no quarto.
Sentia falta de ser eu mesmo, de me ouvir, rir comigo, aprender com meus erros, vangloriar meus acertos: me amar.

O caminho pra casa não era longo, nem curto, difícil ou fácil, com subidas ou descidas, perigoso ou seguro. Era apenas o caminho, o único caminho pra casa.
Cheio de meios-termos, significados e pontos de vistas.

Para aquela avenida eu vou , pois nela eu moro. Outros passam, pois ela é caminho. Outros não passam após às 19:00 horas, pois ela está congestionada.
O que importa pra mim é o significado que ela tem nessa parte da minha vida. Não ligo se alguém reclamar, falar mal, invejar. É meu caminho pra casa e pronto.

Pra casa eu vou, pelo passeio da contramão porque gosto de trocar olhares com todos motoristas pela madrugada. Me sinto visível, vivo. O que eles sentem eu nem sei, ou ligo a mínima.

Entre estes meios-termos há respostas satisfatórias. Depende apenas do anseio, vontade, necessidade, desejo: de você.

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