sexta-feira, 5 de abril de 2013

Querida Heloísa: Desfibriladores reciclados e camuflados numa história clichê. (2011)


Querida Heloísa:

(2011)


A ideia do ramalhete de flores se apagou, assim como o fogo que eu teria guardado para o final de semana; data que eu havia reservado naquele mês tão especial para mim.

As pedrinhas que joguei nas janelas, de repente, algumas voltaram e me cutucam. Isso me lembra do quanto fui tolo de tê-las deixado de lado para riscar minha estrada com carvão; carvão deixa marcas sujas, mas só as pedras deixam as cicatrizes que preciso.
Você deixou marcas, traumas em mim; só.

Não era bem o que eu procurava, mas a pressa que eu tinha de fugir dos problemas resultou no nosso encontro; tão sem acaso, sem rumo, sem por quês (...).

O pior é que a mancha de carvão é chata de tirar. Olha como impregna; parece que passa pela carne e incrusta na alma. Por mais que eu tenha me limpado de ti, do teu veneno ainda não fui capaz de fugir.

Quero tirar-te de mim, quero arrancar-lhe bruscamente da alma. Saia mancha suja, saia parte negra.

Você evoluiu de poeira para carvão, mas, como pedra, jamais te permito ser em mim.

Uma cicatriz você jamais causará. Você é apenas essa impregnação que me enoja.

Pena que me fez bem, pena que o fogo acabou.
Agora lhe vejo em brasas apagadas e as quais quero pisar para relembrar a dor que você costumava me causar.

Por mais que eu tenha permitido, eu gostava.

As flores murcharam, as velas transformaram-se em cera e o pavio curto? Do infinito ele vive pela fé. As lágrimas secaram e o relógio nunca parou.

Tudo teve seu fim, mas mesmo assim, ainda não consigo tirar essa mancha que ficou em mim.


(PARTE II)

Heloísa: Desfibriladores reciclados e camuflados numa história clichê.


(2011)

Estava pensando como sair da monotonia, então resolvi parar de pensar em você.

Resolvi parar de te julgar pelas coisas que você causou, resolvi me libertar de ti.

 Ouço sua voz, mas não a reconheço mais e soa estranho o conjunto de letras que formam teu nome.
Chega a me incomodar.

Eu me lembro daquela noite fria, era uma sexta, a última que estivemos juntos.
Você perguntou se eu te amava, eu não respondi, apenas lhe beijei. Eu não sabia a resposta, logo, eu tinha que disfarçar.  Como era de costume, repeti a pergunta e a resposta foi dada da mesma maneira sutil que a minha. Foi quando eu decidi: ‘’tenho que decretar o fim’’.
 Não queria manter um sentimento, outra obrigação.

Se eu te amei? Acho que sim. 

Ter você me fez bem.
Mas, eu acho que qualquer coisa que no momento suprisse meu vazio, mesmo que com mentiras, me faria bem.

Não encaro nosso fim como uma consequência ruim, jamais!
 Nosso fim foi a melhor coisa que já aconteceu, não acha? Reciclagem, conhece?

 Não lhe reconheço mais, não quero lhe reconhecer mais também.

 Seu nome me fere, sua voz me corroí e a falta do teu amor, ah, você me amou?

 Sabe, com você me sentia útil Heloísa. Você me usava.

Enquanto a distância de quadras nos separavam, eu achava que eu sentia sua falta, mas não... eu sentia falta de alguém que me reanimasse; desfibriladores não machucam tanto quanto a ilusão do teu amor.

Tudo se foi, ou melhor, tudo teve que ir; não tive escolha.
Ou eu apagava da memória, ou arrancava pela raiz o meu amor, ou... não sei, não tentei mais nada.

Eu não acho que viver pela memória do que queria que tivesse sido seja bacana.

Acho que a ilusão é igual aos remédios que me induziram a lhe esquecer. Camuflam. 
Mas com os remédios, eu dormia e sonhava inconscientemente contigo. Não sentia culpa, era bom. Mas a ilusão não, eu a crio e a sustento.

Prefiro sofrer pelo que é, do que pelo o que poderia ser. Clichê? Muito! Assim como seu tipo de ser Heloísa. Comum. Mais uma e muito, muito dispensável. Que por falta de criatividade torna-se opção.

Ah Heloísa confesso: Também lhe usei.
Usei para ter forças para te fazer o bem. Ingênuo? Não! Só caráter mesmo.

Os remédios acabaram, olha que bom!
 Agora poderei tomar boas doses de conhaque, e algumas milhares taças de vinho.

 Os sonhos? Ah, os remédios os mantinham, você deve ter escapado (como de costume) e ter somatizado em mim; nada que um AAS resolva fácil, fácil!

Viu? Como foi fácil limpar-te de mim?
 Mas, confesso que eu não seria capaz de fazer tudo sozinho.
Tive um aliado incondicionalmente indispensável.
O pilar, a base, o racional, o cruel, o curador; o tempo.


João Ricardo Rios Fonseca Dias Mesquita - joaoricardocontato@gmail.com            
18 anos, estudante de Publicidade e Propaganda, compositor e colunista.


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