Vejo-te em outros rostos e corpos. Vejo-te em meus sonhos
e na minha imaginação provocada.
Vejo-te naquela estante de livros e no reflexo dessa
colher de prata.
Vejo-te em tudo, só não te vejo aqui e em mim.
É um absurdo não ter existido um início para poder ter um
fim.
Você sabe que me tem nas mãos, mas chega de tanto moralismo,
me tenha dentro de você, na sua cama, no seu chão.
Descobri o que é inveja, pois agora eu a sinto.
Sinto inveja do copo que você segura, das luvas que esquentam
suas mãos. Da água do chuveiro que te percorre, das gotículas do seu perfume
que te tocam e ficam. Tenho inveja da cadeira que você senta e de suas roupas
íntimas que cobrem o que eu queria tampar com meu corpo inteiro.
É humilhante, mas, até objetos têm algum significado para
você e em você.
Eu sou uma carta fora do baralho, um curinga emprestado
de outro jogo.
Na verdade, eu fui.
Ou nem isso eu fui?
Posso ter sido uma brisa de vento que “atrapalhou” o seu
cabelo, deixando-o mais bonito sem que você tenha notado. Posso ter sido uma
vaga no estacionamento do supermercado, estrategicamente posicionada para seu
conforto e satisfação. Posso ter sido algo que acontece todos os dias, posso
ter sido mais uma dessas pequenas coisas que existem só para manter o ciclo da
naturalidade da vida.
O que me deixa mal, não é ser invisível ou insignificante
pra você. O que me incomoda é você ser tão visível e considerável pra mim. Onde
está a reciprocidade? Proporcionalidade engana. Por que eu não te ponho, onde
você pediu pra pôr?
Por que não consigo te colocar como mais um, e insisto em
pôr você como o número um?
Um dia quero ter poder suficiente para dizer: “são apenas
números”. E poder te encaixar lá.
Talvez isso não demore muito, só tenho que aprender a
lidar.
Um dia seu velcro sai, nem vou ter que descolar.
Talvez eu grite: “ai”, mas saberei que foi porque não
dava mais.
Um comentário:
I love it! That is exactly how I am feeling right now...
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