terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Seu título.


Seu título.


Vejo-te em outros rostos e corpos. Vejo-te em meus sonhos e na minha imaginação provocada.
Vejo-te naquela estante de livros e no reflexo dessa colher de prata.
Vejo-te em tudo, só não te vejo aqui e em mim.
É um absurdo não ter existido um início para poder ter um fim.

Você sabe que me tem nas mãos, mas chega de tanto moralismo, me tenha dentro de você, na sua cama, no seu chão.

Descobri o que é inveja, pois agora eu a sinto.
Sinto inveja do copo que você segura, das luvas que esquentam suas mãos. Da água do chuveiro que te percorre, das gotículas do seu perfume que te tocam e ficam. Tenho inveja da cadeira que você senta e de suas roupas íntimas que cobrem o que eu queria tampar com meu corpo inteiro.
É humilhante, mas, até objetos têm algum significado para você e em você.
Eu sou uma carta fora do baralho, um curinga emprestado de outro jogo.
Na verdade, eu fui.
Ou nem isso eu fui?

Posso ter sido uma brisa de vento que “atrapalhou” o seu cabelo, deixando-o mais bonito sem que você tenha notado. Posso ter sido uma vaga no estacionamento do supermercado, estrategicamente posicionada para seu conforto e satisfação. Posso ter sido algo que acontece todos os dias, posso ter sido mais uma dessas pequenas coisas que existem só para manter o ciclo da naturalidade da vida.

O que me deixa mal, não é ser invisível ou insignificante pra você. O que me incomoda é você ser tão visível e considerável pra mim. Onde está a reciprocidade? Proporcionalidade engana. Por que eu não te ponho, onde você pediu pra pôr?
Por que não consigo te colocar como mais um, e insisto em pôr você como o número um?

Um dia quero ter poder suficiente para dizer: “são apenas números”. E poder te encaixar lá.
Talvez isso não demore muito, só tenho que aprender a lidar.
Um dia seu velcro sai, nem vou ter que descolar.
Talvez eu grite: “ai”, mas saberei que foi porque não dava mais.

Um comentário:

Anônimo disse...

I love it! That is exactly how I am feeling right now...